1.8.10

Um estádio nada modesto

O novo Mané Garrincha será o segundo maior estádio da Copa do Mundo de 2014, atrás apenas do Maracanã, no Rio de Janeiro.

Na última terça-feira, o governador Rogério Rosso assinou contrato para a ampliação do estádio Mané Garrincha. Com o acordo, se contraria o conselho do ministro do Esporte, Orlando Silva. No final de abril, após fechar acordo com o Ministério do Meio Ambiente para fazer a “Copa Verde”, ele havia comentado que Brasília deveria fazer um estádio mais modesto: “Existe a demanda para 70 mil lugares? Isso pode ser um erro, porque pode não ser o uso adequado do dinheiro público. O estádio não é só para a Copa, é também para depois”, disse o ministro.

O Estádio Nacional de Brasília – como passará a ser chamado após a reforma – possui números astronômicos. Terá capacidade para 70 mil lugares, o que o torna apto a receber o jogo de abertura e de semifinais de Copa do Mundo. Será o segundo maior estádio do Mundial, ao lado do Mineirão e atrás apenas do Maracanã, palco da final, que terá 80 mil lugares. É o maior orçamento de todas as doze sedes da Copa. A obra deverá custar R$ 696,9 milhões aos cofres públicos.

Futebol em Brasília - Os dados contrastam com os do futebol local. A soma do público que assistiu aos 12 jogos da segunda fase e os dois jogos finais da edição 2010 do Campeonato Brasiliense de Futebol foi de 34.772. Insuficiente para preencher metade dos espaços do Estádio Nacional. A média de torcedores foi de 2.483 por partida e a final foi assistida por 11.326 espectadores. Apenas as finais dos estaduais do Amazonas e do Rio Grande do Norte, dentre aqueles estados que terão cidades como sedes da Copa, tiveram público menor.

O gerente de contas de investimento Eduardo Silva explica que, apesar dos valores astronômicos de investimento público, a construção do estádio pode trazer benefícios para a cidade através de geração de empregos, de impostos e expansão econômica, motivada pelo incremento monetário governamental. “Talvez não seja uma obra de primeira necessidade, mas pode indiretamente gerar riquezas para o Distrito Federal, justamente porque o investimento público faria a roda da economia girar, distribuindo riqueza”.

Silva explica, no entanto, que estes investimentos grandiosos impactariam a economia positivamente apenas em curto prazo. “O efeito multiplicador dos investimentos, segundo a teoria econômica, não se sustenta no longo prazo”.

Elefante branco - O estudo Gestão do ativo estádio, elaborado pela consultoria internacional especializada em marketing esportivo Crowe Horwath RCS, chegou à conclusão que um estádio que custou R$ 500 milhões precisa gerar receitar líquidas anuais a partir de R$ 10 milhões para gerar lucro, no Brasil. A maior renda da edição deste ano do Campeonato Brasiliense foi obtida na final entre Brasiliense e Ceilândia, exatos R$ 32.115,00. Nos demais jogo, oscilou entre R$ 2 mil e 5 mil.

O Estádio Nacional, segundo o mesmo estudo, está entre os sete estádios do Mundial que devem se tornar elefantes brancos (nome utilizado para se referir a uma grande obra inutilizada). A falta de perspectivas de lucro dificulta a entrada de investimentos estrangeiros. Antes de decidir arcar com todas as despesas do estádio, o governo do Distrito Federal esperou por parceiras do setor privado, mas ninguém se interessou.

Para Silva, a solução seria pensar na obra como investimento de longo prazo. “Não há como pensar em construir um estádio dessa magnitude se não houver projetos que valorizem a educação e o esporte apos o período da Copa do Mundo”, explica.

Disputa pela abertura - A obra deve ser concluída até o começo de 2013, a tempo de sediar jogos da Copa das Confederações, uma espécie de teste para a Copa de 2014. Brasília também deverá receber jogos do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro.

Nem as palavras do ministro Orlando Silva ou a realidade precária do futebol local foram suficientes para que o governador Rogério Rosso repensasse o atual projeto. Concebido durante o governo de José Roberto Arruda, a empreitada tinha objetivo ambicioso: sediar o jogo de abertura do Mundial. 

Sobre as chances de Brasília vencer a disputa com São Paulo e Belo Horizonte para realizar o primeiro jogo da Copa de 2014, Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, time com a segunda maior torcida do Brasil e aliado de Ricardo Texeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), comentou recentemente à imprensa paulista: “Se não for São Paulo, quem vai fazer a abertura? Brasília? Brincadeira!”.

* Fonte: CampusOnline (acessado em 01/08/2010)

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