Os membros do Comitê Olímpico Internacional deslocaram-se ao Rio de Janeiro a fim de inspeccionarem os trabalhos conducentes à organização dos Jogos de 2016. Entretanto, um grupo de manifestantes que vão ser desalojados manifestou-se à porta do hotel onde se realizava a reunião a fim de poderem falar com os membros doo COI e apresentarem as suas posições. Acabaram por não ser recebidos. Muito embora o prefeito Eduardo Paes já tenha realizado algumas reuniões com o moradores na realidade as justificações apresentadas parecem não ser convincentes.
Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo disse à comunicação social: "Nós trouxemos uma notificação, que foi elaborada pela defensoria pública com base em argumentos das associações de moradores para entregar ao COI. Mas, infelizmente, nós não conseguimos ser atendidos. A nossa intenção era mostrar para eles que nós podemos ter os Jogos Olímpicos sem remoção – disse Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo."
É necessário racionalizar ao máximo as decisões, desde logo libertando-as tanto quanto possível de interferências ilegítimas, não porque se trata de combater os grandes e os mega eventos desportivos, mas antes para exigir que os mesmos sejam decididos na base de uma boa relação custo / benefício através dos critérios mais exigentes de racionalidade económica, mas também, e fundamentalmente, de justiça social.
É necessário garantir que um evento como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) seja realmente um “eventos desportivos amigável” e não acabe por se virar contra as pessoas. Esta é a posição da Organização das Nações Unidas (ONU) quando em 2009 elaborou um relatório que decorreu sob a responsabilidade da brasileira Raquel Rolnik, acerca dos impactos dos grandes eventos desportivos internacionais no que diz respeito ao direito a uma adequada moradia enquanto direito inealienável dos seres humanos.
Diz o relatório da ONU não existirem dúvidas que os mega eventos desportivos são dinamizadores tanto no domínio público como privado nos domínios:
- da construção, tendo com o conseqüente aumento do emprego e da habitação;
- do surgimento de planos públicos de renovação urbana;
- do saneamento básico; a construção de novas habitações e novas possibilidades no âmbito social e cultural;
- da modernização e construção de um considerável número de instalações desportivas;
- da melhoria da posição competitiva das cidades na economia global, através da promoção de uma nova imagem empreendedora e moderna.
O relatório da ONU concluiu também que eventos desportivos da dimensão de Jogos Olímpicos e de Campeonatos do Mundo de Futebol têm efeitos “alarmantes” para as populações e cidades envolvidas.
Como a existência de alojamentos improvisados é considerada um símbolo de pobreza e subdesenvolvimento, normalmente, esses alojamentos são os primeiros a serem demolidos para darem lugar a instalações desportivas ou a novas habitações. Ora, estas medidas tomadas sem um grande sentido de justiça social, podem: inviabilizar o retorno dos antigos moradore; aumentar abusivamente dos preços de aluguer e venda de habitações; diminuir o número de habitações sociais disponíveis; provocar expulsões forçadas de pessoas sem que sejam realizadas consultas prévias, exploradas possíveis soluções alternativas ou, sequer, que ocorram adequadas indenizações.
Depois, o retorno ao local de origem torna-se inviável devido:
- ao aburguesamento dos locais;
- à especulação imobiliária;
- à descriminação de grupos étnicos e sociais considerados inconvenientes.
Em consequência, os moradores perdem todos os vínculos comunitários, bem como as ligações às redes sociais das suas vidas.
* Fonte: Fórum Olímpico de Portugal (acessado em 20/12/2010)
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